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Agredidos e agressores, fora e dentro A agressão é, por si própria, uma condicionante à liberdade individual e à leitura do que nos faz sentir ou ser livres ou, pelo menos, com poder de escolha que preserve a integridade pessoal. Quer venha ela - a agressão - de um factor interno ou externo, perceber como é que opera em nós a vontade do outro ou os nossos sentimentos de auto culpabilização, auto censura, auto sabotagem, auto desamor na condução do nosso dia a dia, parece-me ser importante. E é importante porque, a partir desse instante, será possível estancar uma e outra posição, observar, e enquadrá-las numa zona de escolha com determinadas condições e parâmetros. Com a vida e a observação das relações, vem muitas vezes à minha 'mesa' a velha questão que relaciona a vítima com o masoquista e o agressor com o sádico. Embora a co-relação dos termos seja dura, o movimento que encerra a mera observação dessa possibilidade pode ser um ponto de partida para quem não deseja ser uma

Fico em pulgas quando...

... falta alguma coisa a quem me rodeia: apêndice, útero... Mas mais em pulgas fico quando falta a tiróide a uma mulher de 28 anos, retirada sem diagnósticos exaustivos e sem procura de terapias complementares que pudessem ajudar à resolução. Não, não era uma caso de cancro nem de massas questionáveis ou escondidas. Eram apenas alterações na produção de tiroxina não solucionada com toma de medicamento químico. Inevitável, agora, a suplementação. Vejamos: graças ao trabalho de Louis Berman, pesquisador conceituado na área das glândulas internas, ficámos a saber que: "Sem a tireóide, não pode haver complexidade de pensamento, nem aprendizado, nem educação, nem formação de hábitos, nem energia de resposta às situações, nem desenvolvimento físico de faculdade e de função, nem reprodução da espécie; não haveria nem sinal de adolescência na idade habitual, nem manifestação das tendências sexuais que normalmente se seguem." Também nos é dito «que a sensibilidade, a possibilidade d
E perdoar significa... O que significa 'perdoar'? Sempre me soou estranha esta palavra, sobretudo quando decomposta em duas.  Não a uso muitas vezes porque a sinto como se não fosse minha.  O acto de per-doar está para lá do entendimento que tenho das relações comigo e com os outros.  Exemplos imensos tenho tido de quem foi alvo de malandrices ou contradições  alheias e, no entanto, doou-se a  capacidade de avançar na vida sem esse peso de comiseração. Estou feliz com essa aprendizagem. Sei que as histórias de vida que conhecemos - de vista - ou que ouvimos são caleidoscópios de variações intermináveis. O nosso acesso a essas experiências, como às nossas, é ultra limitado e, no entanto, de possível amplitude gigante! Mas há períodos em que não desejamos a existência de algumas coisas na vida. Mesmo que já tenham sido importantes, fundamentais, poderão deixar de o ser neste instante em que sentimos que não são benéficas, produtivas ou livres. Às vezes lamentamos este sentir,

A complementaridade

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Olhar para cima é um exercício difí cil de executar consistentemente. Umas vezes porque não nos lembramos, outras vezes porque não conseguimos, e outras ainda porque não encontramos razões para o fazer. Ontem aprendi que existe um valor de incalculável satisfação interna quando, em momentos que nos sentimos sós na procura de soluções, dirigimos o olhar para cima e observamos o 'céu' que nos alicerça superiormente. O meu céu capelino é quase indescritível. Como o teu, seguramente, se já o experimentaste... Mesmo assim, gostaria de lhe dar alguma visibilidade pelo verbo: é repleto de estrelas, algumas bem humanas (outras nem por isso, embora desconfie que vivem em secreta parceria amorosa), vários 'holofotes' de luz clara que espraiam os seus braços ligando as ditas estrelas, cascatas/emoções que alimentam lagoas tornadas translucidas e muitas, muitas árvores. Ou uma espécie de árvores... Detenho-me aqui um bocadinho, infinito, para reforçar que reaprendi ontem o va

Hoje, quais são as tuas histórias reais?

As manhãs e dias cheios de dúvidas também podem ser enternecedores. As clínicas, os hospitais e os cafés são locais onde isso tudo acontece, às vezes num relâmpago em que o coração vibra e tudo pára no instantâneo. Servem, digo eu, para testar o quanto somos capazes e estamos preparados (como se pudéssemos estar preparados para a surpresa da vida real) para nos integrarmos na relação... connosco próprios. Hoje tem sido assim. Uma mulher invisual que tem de fazer exames médicos e que se faz acompanhar pela única pessoa disponível: o taxista que a transportou até ali;  outra mulher, diabética, e mãe de 13 filhos - actualmente apenas de 11 dado que dois morreram tragicamente - que se questiona sobre a utilidade da sua existência;  um homem/rapaz, que acompanha a sua mãe - adivinho que ainda a única mulher da sua vida  - e indaga sucessivamente sobre o conforto da cadeira onde ela aguarda e se as dores estão mais calmas, recostando-se ele próprio depois das respostas afirmativas; na pa

Autorizar a entrada d'o Alegria

Alegria. Conheci um homem especial com este sobrenome; especial porque operou um tumor cerebral com mestria à minha companheira. Tinha umas mãos gigantes, de mestre pastor, dedos flexíveis articulados - podia ser em volta de um cajado - que lhe serviam para arredondar conversas reais, às vezes difíceis. Fazia-se acompanhar - não de amigas ovelhas - de uma altura considerável e de um sorriso peculiar,  pela dentadura ligeiramente aumentada e proeminente. Assim, com este élan, o dr. Alegria explicava os procedimentos que aprendera na África do Sul, pausando apenas quando o paciente lhe pedia que não continuasse a narrativa, por talvez o estômago não permitir tal digestão... Mas foram as suas mãos, iluminadas de sucesso, que ficaram retidas em mim. Isso e a palavra Alegria, que serviu tantas vezes para me entristecer em adolescente e animar o meu fogo em adulta. Hoje, continuo a vestir as minhas mãos da luz do Alegria porque não há forma de realizar o serviço ao outro. Obrigada Carlo

Os tempos diferentes

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O passar do tempo resolve uma data de coisas! Aqui está uma frase, feita lei, que ouvimos - antes e agora - em variadas circunstâncias. Na verdade, é sentença que me causa confusão. Compreendo que o passar do tempo nos faça esquecer determinada emoção de momento, que desvie o nosso olhar para outros episódios e assim... Mas será que a tal emoção deve ser esquecida? E haverá acontecimentos que se mostram mais dignos de atenção do que outros, apenas porque estão mais à flor da pele? O que define, em nós, a importância da passagem das coisas pela nossa vida? Sinto verdade que o tempo nos esclarece e ilumina. Esclarece a razão pela qual não respondemos a uma afronta, pela qual preferimos 'sair de cena', pela qual calamos uma dor funda ou preferimos ser mais compassivos perante perplexidades inesperadas. E está certo, isso. Então, como conjugo tranquilamente o meu e o tempo de quem comigo contracena ou contracenou? Experimento o caminho da confiança e encontro conforto nesses

O primeiro de todos

Fui jornalista numa revista de moda e beleza, tutelada pela minha querida Maria João Aguiar. A partir daí a escrita e a palavra foram fluindo no quotidiano, passando por várias etapas, locais e, sobretudo, por gente. Quando a minha amiga Catarina 💛me cutucou para escrever o que digo, apareceram imagens da minha antiga tutora a sugerir algo semelhante. Confesso que os temas são, agora, bem mais aliciantes. Quem me conhece sabe do que falo... Ora daqui sai - está a sair - o primeiro texto de todos os que ainda escreverei. E este é sobre uma palavra que se torna hoje, aos meus olhos, um objecto de estudo profundo: gratidão. É o mesmo que agradecimento? Adiante... António Nóvoa apareceu, em 2015, numa explanação muito curiosa sobre o 'obrigado'. Nessa altura, achei interessante a forma como ele trouxe São Tomás de Aquino para a sua reflexão. Por isso, trago agora os dois, sugerindo que os espreite. A gratidão envolve, para lá das emoções, necessidades e falsas verdades.