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A mostrar mensagens de junho, 2021

O que se vê desta nuvem branca

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Obrigada a todos, os que estiveram, pensaram e me desejaram luz e amor no processo de ascensão da minha mãe. Consegui-o! E por isso partilho convosco o que vivo, porque também fazem parte. No meu inconsciente, desde há vários meses, residia a necessidade (urgente) de ouvir algo ainda oculto e muito profundo. Fui fazendo as minhas tentativas de entender as mensagens, assumindo logo a seguir que apenas devia estar presente no que me sucedia, no que sentia, como um espectador no teatro, como uma formiga no carreiro, como uma árvore ao longo das estações. Retirei-me do quotidiano por uns dias, confrontei-me com a minha solidão, tornámo-nos íntimas e prossegui. Algum choro no princípio, no meio e no fim, aquele que vem de um sítio de tremor vulcânico, de abalo de ventania. E ao mesmo tempo de queda estrelar. Os 52 anos - a morte e aniversário da minha mãe (amanhã, 24), a sensação de queda, a desprotecção. Tudo foi acompanhado das palavras e aproximações de quem me ama, notando-me escondida,

Regresso à mulher que sou, depois do silêncio

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Uma semana após a partida da minha mãe, escrevo de um lugar diferente. Estes dias foram muito cheios e, ao mesmo tempo, com espaço para que o miolo da experiência alargasse até ao seu próprio limite. Pelo menos aquele que me é possível vislumbrar neste momento. Olhando para trás, sem ele há uma não correspondência e linearidade com o hoje, observo os movimentos antecessores do sítio onde me encontro enquanto mulher, mãe, profissional, amiga. Enquanto pessoa, na realidade. E estou profundamente grata por isso. O novo ciclo que se instala não carece de explicação demorada. Sinto-o como se esse trabalho celular, algumas vezes invisível e que persigo na ligação com o resto de mim, fecundasse um movimento vasto e de linhas redondas. Depois do silêncio, volto ao som. Quero-o, no entanto, suave e leve, como uma brisa da madrugada ou do fim da tarde. Como dizia o Pessoa - maravilhoso apelido! -  entre uma e outra, todos os dias são meus.

À mulher que é minha Mãe

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Aos 52 anos tenho a sorte de ter a minha mãe viva e prestes a completar o seu 84º aniversário. É sempre maravilhoso estar com ela, mas estes dias foram especialmente transformadores. Talvez para ambas. À pergunta simples «como te sentes, mãe?» vem a resposta que já conheço como evasiva. Segue-se a insistência na mesma pergunta e as respostas vão-se adivinhando pelo desconforto na cadeira, pelo titubear dos dedos na mesa.  De uma forma natural, reconheço na Lucinda (muitas luzes tenho eu comigo!) uma mulher colorida de emoções e experiências, mas às vezes confundo-a apenas como a mulher que me trouxe para aqui. E é bem mais do que isso, na realidade. Como eu sou mais do que a mãe dos meus filhos, a Lucinda tem muitos outros papéis, alegrias e tristezas, contratempos ou tempos certos, amores e desamores.  Mas o que me tem maravilhado é a clareza com que ela olha hoje, a caminho dos 84 anos , para as pessoas que a rodeiam. Assim, sem pesar e com uma consciência tranquila de quem conclui a