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Terra para aprender e ensinar

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 A (T)terra ensina constantemente. Ao aprendermos e ao ouvirmos sintonizadamente, é super engraçado encontrar as analogias que nos permitem observar em cima o que é em baixo. E vice versa. A minha sogra é uma mulher da terra. E como eu gosto de mexer, plantar, colher, regar, ela é responsável por me manter atenta ao que faço, com o objectivo de receber o melhor do solo. Embora nem sempre fácil na gestão dos temperamentos (reforce-se: meu e dela), também hoje aprendi algo novo. Observem: ao levantar a rama da cenoura da terra, comentei que grande parte do legume vinha incerta na sua forma, pouco erecta e, por isso, muito difícil de descascar. E algo fibrosa. Isto aconteceu, contou-me, porque ela plantou e não semeou a cenoura. E plantou porque tinha pressa no seu desenvolvimento, escolhendo colocar na terra pequenas cenouras ao invés da sua semente, afundando o dedo com a pequenina amostra cor de laranja. Ela ensinou e eu aprendi... Não há pressa para crescer, nem para chegar, nem para

O que se vê desta nuvem branca

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Obrigada a todos, os que estiveram, pensaram e me desejaram luz e amor no processo de ascensão da minha mãe. Consegui-o! E por isso partilho convosco o que vivo, porque também fazem parte. No meu inconsciente, desde há vários meses, residia a necessidade (urgente) de ouvir algo ainda oculto e muito profundo. Fui fazendo as minhas tentativas de entender as mensagens, assumindo logo a seguir que apenas devia estar presente no que me sucedia, no que sentia, como um espectador no teatro, como uma formiga no carreiro, como uma árvore ao longo das estações. Retirei-me do quotidiano por uns dias, confrontei-me com a minha solidão, tornámo-nos íntimas e prossegui. Algum choro no princípio, no meio e no fim, aquele que vem de um sítio de tremor vulcânico, de abalo de ventania. E ao mesmo tempo de queda estrelar. Os 52 anos - a morte e aniversário da minha mãe (amanhã, 24), a sensação de queda, a desprotecção. Tudo foi acompanhado das palavras e aproximações de quem me ama, notando-me escondida,

Regresso à mulher que sou, depois do silêncio

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Uma semana após a partida da minha mãe, escrevo de um lugar diferente. Estes dias foram muito cheios e, ao mesmo tempo, com espaço para que o miolo da experiência alargasse até ao seu próprio limite. Pelo menos aquele que me é possível vislumbrar neste momento. Olhando para trás, sem ele há uma não correspondência e linearidade com o hoje, observo os movimentos antecessores do sítio onde me encontro enquanto mulher, mãe, profissional, amiga. Enquanto pessoa, na realidade. E estou profundamente grata por isso. O novo ciclo que se instala não carece de explicação demorada. Sinto-o como se esse trabalho celular, algumas vezes invisível e que persigo na ligação com o resto de mim, fecundasse um movimento vasto e de linhas redondas. Depois do silêncio, volto ao som. Quero-o, no entanto, suave e leve, como uma brisa da madrugada ou do fim da tarde. Como dizia o Pessoa - maravilhoso apelido! -  entre uma e outra, todos os dias são meus.

À mulher que é minha Mãe

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Aos 52 anos tenho a sorte de ter a minha mãe viva e prestes a completar o seu 84º aniversário. É sempre maravilhoso estar com ela, mas estes dias foram especialmente transformadores. Talvez para ambas. À pergunta simples «como te sentes, mãe?» vem a resposta que já conheço como evasiva. Segue-se a insistência na mesma pergunta e as respostas vão-se adivinhando pelo desconforto na cadeira, pelo titubear dos dedos na mesa.  De uma forma natural, reconheço na Lucinda (muitas luzes tenho eu comigo!) uma mulher colorida de emoções e experiências, mas às vezes confundo-a apenas como a mulher que me trouxe para aqui. E é bem mais do que isso, na realidade. Como eu sou mais do que a mãe dos meus filhos, a Lucinda tem muitos outros papéis, alegrias e tristezas, contratempos ou tempos certos, amores e desamores.  Mas o que me tem maravilhado é a clareza com que ela olha hoje, a caminho dos 84 anos , para as pessoas que a rodeiam. Assim, sem pesar e com uma consciência tranquila de quem conclui a

Socorrroo! O meu céu em modo eclipse...

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Vem aí um eclipse e vai cair no meio do meu céu!! Peço socorro aos deusas, às deusas, aos planetas e estrelinhas, às árvores e às pedras, aos bichos que trepam e aos que nadam e mais ainda aos que voam, não vá estes últimos verem alguma coisa a cair lá de cima na minha direcção e conseguirem, num acto de altruísmo e bondade, alterar a trajectória dessa seta a mim apontada! Sim, porque já a sinto a ressoar! Ufa... Já desabafei e pedi ajuda. Gosto do meu signo, apesar de tudo. Tem cenas boas e cenas más, aliás como tudo, não é? Gémeos é dualidade e assim, e dizem também que se deve desconfiar de nós, dada a tamanha emergência que temos em conhecer o que está para aqui e por além e do nosso pensamento pouco fixo. Mas reafirmo regularmente e agora também (aproveitando que estão aí), que estamos ao mesmo tempo, a conhecer-nos a nós próprios. Não é assim, Ana Paula, Rui, Joana, Luís, Guida, Humberto?! É! E a poucos dias de chegar aos 52, venho apenas salientar que quero continuar a fazer ist

Medo é amor não esclarecido

Ser, Estar, Fazer. Olhar para dentro é difícil. Anular o ruído à nossa volta tem de ser, muitas vezes, obrigatório. Como uma prescrição médica passada por nós próprios... A minha experiência conta a história de que é possível estar só com os meus pensamentos, mesmo com muitas pessoas à volta; mas a minha experiência diz-me que, tantas outras vezes, o isolamento é uma porta aberta para desvendar algumas coisas até aí secretas.  Horas de silêncio e quietude causam estranheza no corpo e na identificação com aquilo que somos. Mesmo sinalizando essas práticas no quotidiano, há uma fronteira temporal singular que nos cabe descobrir.  Eu experimentei uma espécie de medo/pânico/susto, na última vez que escolhi sair. Uns dias fora do circuito habitual, apenas comigo mesma. Na tentativa de reforçar a minha identidade e associar-me ao meu propósito, encontrei uma espécie de gatilhos que identificam o motivo pelo qual, às vezes, Faço e deixo de Ser.  E esta imagem de que é obrigatório fazer vem do

Até quando a amnésia?

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Acabei de ver o filme 'Uma vida à sua frente' na netflix, a conselho de uma amiga. «É intenso» disse-me ela. E eu resolvi vê-lo sozinha, embora não tenha sido bem uma escolha, antes uma circunstância.  Micro histórias de várias gerações, religiões, cores, crenças, opçõe s comungam no que verdadeiramente temos de igual: a dor, a música, a perda, a crueldade, o carinho, o cuidado e a Memória. A representar uma vítima do holocausto, Sophia Loren ainda dança. A custo, mas dança com prazer. A seguir evade-se; depois acaricia a face de um menino senegalense orfão e ainda tem tempo para tomar conta de um bebé filho de um transsexual. E recolhe-se outra vez, de olhar vazio, cheio de tantas imagens que receamos visitar pelo confronto com o que somos. Este retrato é real. Há muitos seres vivos que materializam o que este filme mostra, na sua bondade e também na sua desumanidade. A célebre palavra 'pandemia' alastra-se desde há muito. Está espalhada por dezenas de locais: Senegal,