Sou útil ou usável?

Há uma linha ténue que separa a utilidade do uso, no que diz respeito à forma como nos relacionamos. Embora, do ponto de vista terapêutico, seja habitual sermos utilizados pelos nossos pacientes como via para a sua saúde, quando passamos a ser meros instrumentos, a coisa descamba. E para os dois lados...
Mas vou deambular uma bocadinho sobre a relação não exclusivamente terapêutica, onde as pessoas estão - ou devem estar - também em verdade total. Quando dizemos «os verdadeiros amigos vêm-se no infortúnio» estamos a dizer que a relação está circunscrita à dor, mesmo que momentânea.
Compreendo que os amigos se escusem de vivenciar a dor, mas não de a ignorar; compreendo que seja difícil dar palavras de aconchego, mas não de aconchegar; compreendo até que haja alguma distância, mas não percebo que falte a assumpção da verdade de quem se afasta. Se eu aceder a essa verdade e disser ao meu amigo sofredor que não consigo estar com ele, ele saberá que o fio que nos une se mantém. 
Mas o mais difícil mesmo, para mim, é que os amigos não se regojizem com a felicidade uns dos outros. Que possuam outros sentimentos e, sobretudo, que os nutram para fazer apodrecer o tal fio de união. Viver e sentir genuinamente a alegria do outro é talvez o modo mais amoroso, gentil e real de dinamizar a amizade. E a amizade é o amor útil que não faz uso de artimanhas nem de entradas e saídas estrategas.

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